quarta-feira, 7 de março de 2018

Pastoral Carcerária chama seus agentes à vigília e mobilização nacional contra massacres e por um mundo sem cárceres

“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista;para libertar os oprimidos, e para proclamar um ano de graça do Senhor.” (Lc 4, 18-19)


Um ano após o maior ciclo de massacres da história do sistema prisional brasileiro, 2018 começou com novas tragédias nas prisões de Goiás e Ceará, deixando um rastro de corpos e famílias destruídas. Porém, longe da atenção do público e da mídia tradicional, o massacre continua à conta-gotas, matando e mutilando presos e presas cotidianamente, tanto mais perverso e cruel quanto mais silencioso e invisível.

Com um crescimento contínuo do número de pessoas presas em condições cada vez mais degradantes – e que já ultrapassou a marca dos 700 mil indivíduos – o aumento da violência e a deterioração das instituições democráticas serão os únicos resultados legados à população brasileira por este processo de encarceramento em massa. Aos poderosos caberá os grandes lucros do aprisionamento, engordados pelas privatizações, o dividendo político com a manipulação de sentimentos de vingança e a satisfação com a eliminação daqueles sujeitos historicamente indesejáveis: jovens, pobres, negros e negras.

Com o aprofundamento das políticas que por sucessivos governos nos trouxeram até este ponto trágico, como a militarização da gestão pública, a expansão do complexo prisional, o recrudescimento da legislação penal e a privatização dos presídios, o Estado brasileiro – legislativo, judiciário e executivo – deixa claro que a barbárie é o seu projeto e que o encarceramento em massa e o extermínio são seus instrumentos privilegiados de governo.

Um necessário programa de redução imediata e substancial da população prisional, conforme exposto na Agenda Nacional pelo Desencarceramento , apoiada por mais de 40 organizações e movimentos, só será realizado com mobilização e pressão social, tendo as próprias pessoas presas e seus familiares como protagonistas.

Nesse sentido, diversas organizações, entre elas a Pastoral Carcerária e a AMPARAR (Associação de Amigos e Familiares de Presos), estão construindo uma vigília em frente ao Centro de Detenção Provisória (CDP) de Pinheiros, na capital paulista, seguida de uma recepção solidária e diálogo com familiares visitantes, entre outras inúmeras atividades de mobilização pelo fim dos massacres e por um mundo sem cárceres.

Assim, em pleno Tempo da Quaresma, período fértil de conversão pessoal, comunitária e social, e animados pela Campanha da Fraternidade 2018 que nos compromete com a superação da violência, convidamos todas e todos agentes da Pastoral Carcerária a se somarem nesse esforço no dia 10 de março em suas dioceses, fazendo uma vigília em frente ao presídio de sua cidade, recebendo e dialogando com os familiares de pessoas presas nas filas de visita ou construindo outras atividades que estreitem esses laços de solidariedades, luta e fé. Nesta semana do Dia Internacional da Mulher (8 de Março), e lembrando que a maioria das pessoas que visitam as encarceradas e encarcerados são mulheres, nossa vigília e mobilização ganham ainda mais importância.

Em comunhão com o Papa Francisco que nos convoca a sermos uma Igreja em Saída e irmanados em preces e luta, sejamos sal e luz do mundo!

São Paulo, 05 de março de 2018
Pastoral Carcerária Nacional